A viagem literária a este conjunto de epístolas escritas em natural tom familiar, poderia facilmente desembocar na análise críptica de um Amor vivido à distância, fruto da salutar teimosia de um Homem avassalado pela dor e pela saudade que a separação forçada provocaram. O outro "arrepio" que perpassa pela obra é a circunstância que ocasiona o afastamento agonizante: a guerra colonial.
Seria, então, óbvio que o crítico literário focasse estes dois motivos que, de forma exemplar, dão vida ao fresco vivencial que é a presente obra. No entanto, um outro conteúdo menos evidente (e, contudo, tão presente e repetido ao longo de todas as cartas), porque suplantado pela história de Amor que acompanhamos, é a história da história que o autor está a escrever, o processo evolutivo da mesma, as incertezas que o assolam face à qualidade da sua escrita, a necessidade de aprovação alheia, em primeiro lugar da mulher e depois do mundo (até porque, tendo conhecimento dos supostos grandes autores do seu tempo, considera-se – e trata-se de um julgamento muito parcial e também sujeito a dúvidas e correcções da parte do próprio – melhor e inigualável).
Estamos, portanto, perante uma obra em que um triângulo temático é exteriorizado em experiências distintas e marcantes partilhadas num mesmo espaço, o aerograma: a experiência amorosa, a experiência de guerra e a experiência de escrita.
Em comum têm o facto de todas elas serem, de formas distintas, dolorosas para o autor, mas é a experiência da escrita que lhe fomenta os sentimentos mais contraditórios podendo ir desde a perfeita euforia catártica, até ao desânimo prostrante. E, para além de opinar sobre a sua própria escrita em andamento ou incapacidade para contornar um determinado obstáculo literário surgido da doença, da desilusão, do não recebimento de cartas da pessoa amada ou da solidão desnorteante, não deixa igualmente de expor algumas ideias controversas, porque não compatíveis com a opinião corrente, sobre autores portugueses e estrangeiros consagrados. “Nasce” o nosso tão apreciado polemista Lobo Antunes.
A obra em que se empenha o autor naqueles longos meses de “reclusão” naquela longínqua remota região pretende, segundo o mesmo, ser revolucionária e abalar a literatura existente, ultrapassá-la em qualidade, criar um novo estilo, induzir no leitor a ideia (a verdade) de que nunca antes tinha lido algo igual.
À distância de largos anos (as cartas a que tivemos acesso remontam a 1972), constatamos que a confiança, embora por vezes vacilante de António Lobo Antunes, na potencial dimensão qualitativa da sua obra, e a crença absoluta da mulher na certeza do marido vir a ser um autor de referência no futuro, revelaram-se felizes previsões confirmadas.
Seria, então, óbvio que o crítico literário focasse estes dois motivos que, de forma exemplar, dão vida ao fresco vivencial que é a presente obra. No entanto, um outro conteúdo menos evidente (e, contudo, tão presente e repetido ao longo de todas as cartas), porque suplantado pela história de Amor que acompanhamos, é a história da história que o autor está a escrever, o processo evolutivo da mesma, as incertezas que o assolam face à qualidade da sua escrita, a necessidade de aprovação alheia, em primeiro lugar da mulher e depois do mundo (até porque, tendo conhecimento dos supostos grandes autores do seu tempo, considera-se – e trata-se de um julgamento muito parcial e também sujeito a dúvidas e correcções da parte do próprio – melhor e inigualável).
Estamos, portanto, perante uma obra em que um triângulo temático é exteriorizado em experiências distintas e marcantes partilhadas num mesmo espaço, o aerograma: a experiência amorosa, a experiência de guerra e a experiência de escrita.
Em comum têm o facto de todas elas serem, de formas distintas, dolorosas para o autor, mas é a experiência da escrita que lhe fomenta os sentimentos mais contraditórios podendo ir desde a perfeita euforia catártica, até ao desânimo prostrante. E, para além de opinar sobre a sua própria escrita em andamento ou incapacidade para contornar um determinado obstáculo literário surgido da doença, da desilusão, do não recebimento de cartas da pessoa amada ou da solidão desnorteante, não deixa igualmente de expor algumas ideias controversas, porque não compatíveis com a opinião corrente, sobre autores portugueses e estrangeiros consagrados. “Nasce” o nosso tão apreciado polemista Lobo Antunes.
A obra em que se empenha o autor naqueles longos meses de “reclusão” naquela longínqua remota região pretende, segundo o mesmo, ser revolucionária e abalar a literatura existente, ultrapassá-la em qualidade, criar um novo estilo, induzir no leitor a ideia (a verdade) de que nunca antes tinha lido algo igual.
À distância de largos anos (as cartas a que tivemos acesso remontam a 1972), constatamos que a confiança, embora por vezes vacilante de António Lobo Antunes, na potencial dimensão qualitativa da sua obra, e a crença absoluta da mulher na certeza do marido vir a ser um autor de referência no futuro, revelaram-se felizes previsões confirmadas.