Steinbeck, John, Ratos e Homens (Of Mice and Men), Editora Livros do Brasil, Tradução de Erico Veríssimo, 2007.
Na América rural dos anos 30, movimentam-se personagens que ocupam os degraus mais baixos de uma sociedade profundamente desigual. É nesta América escondida que os trabalhadores sazonais vagueiam de terra em terra em busca de sonhos distantes, dificilmente realizáveis. É numa América díspar, de oportunidades infinitas para alguns e trabalho quase escravo para outros, uma América composta por ratos e por homens, pela massa trabalhadora que aspira a algo mais e pelos que a subjugam, desejando apenas mantê-la longe do patamar seguinte, é neste país, nesta época que nos surgem George e Lennie, dois ratos-homens que percorrem o país juntos à procura do trabalho que lhes permita juntar o dinheiro necessário para comprarem um pedaço de terra para cultivar e animais para criar. Esse o seu sonho.
Encontramos os dois companheiros em plena fuga devido a um equívoco provocado por Lennie: possuidor de uma força física invejável, Lennie tem um atraso intelectual que lhe não permite discernir entre o que está certo e o que está errado. George é o guardião da integridade do grupo, salvando a sua coesão graças a uma capacidade de reacção rápida, perfeito avaliador do não-entendimento dos outros face à diferença de Lennie. Não é possível explicar um mal-entendido quando tudo aponta para a culpabilidade de um simples de espírito forte como um touro. Ele é, pré-determinadamente, considerado culpado, um proscrito mental sem direito a defesa ou argumentação plausível. Só lhes resta a fuga. E é dela que se socorre George na sua frieza calorosa de protector daquela cândida criança grande, sem compreensão que alcance que simples actos perdoáveis a uma criança, não lhe são aceites a ele.
Obcecado pela posse da terra e de animais de que pudesse tratar (sobretudo coelhos …), Lennie acaba por contaminar George com o seu entusiasmo pueril, apesar deste verbalizar amiúde a sua irritação pelo facto de Lennie lhes arranjar sempre problemas com a sua excessiva inocência. Chegados a um novo trabalho, logo George percebe que têm de se manter afastados da mulher do filho do patrão. E o seu presságio quanto ao papel que aquela mulher iria exercer nas suas vidas, confirma-se da pior forma possível. Em pânico, assustado, Lennie sufoca a jovem e foge (como era hábito nos momentos maus) para um local previamente combinado com o companheiro de viagem. Assim que George compreende os factos apresentados, dirige-se ao local e mantendo no amigo a ilusão de que tudo está bem, de que nada há a perdoar, fala-lhe suavemente sobre o seu sonho comum e dá-lhe um tiro mantendo essa ideia de felicidade nunca concretizada mas suficiente para Lennie no momento da sua morte. Perante o iminente linchamento de Lennie, o gesto de George é um acto de misericórdia, a piedade que só um amigo podia demonstrar.
E nunca mais fugiram.
Na América rural dos anos 30, movimentam-se personagens que ocupam os degraus mais baixos de uma sociedade profundamente desigual. É nesta América escondida que os trabalhadores sazonais vagueiam de terra em terra em busca de sonhos distantes, dificilmente realizáveis. É numa América díspar, de oportunidades infinitas para alguns e trabalho quase escravo para outros, uma América composta por ratos e por homens, pela massa trabalhadora que aspira a algo mais e pelos que a subjugam, desejando apenas mantê-la longe do patamar seguinte, é neste país, nesta época que nos surgem George e Lennie, dois ratos-homens que percorrem o país juntos à procura do trabalho que lhes permita juntar o dinheiro necessário para comprarem um pedaço de terra para cultivar e animais para criar. Esse o seu sonho.
Encontramos os dois companheiros em plena fuga devido a um equívoco provocado por Lennie: possuidor de uma força física invejável, Lennie tem um atraso intelectual que lhe não permite discernir entre o que está certo e o que está errado. George é o guardião da integridade do grupo, salvando a sua coesão graças a uma capacidade de reacção rápida, perfeito avaliador do não-entendimento dos outros face à diferença de Lennie. Não é possível explicar um mal-entendido quando tudo aponta para a culpabilidade de um simples de espírito forte como um touro. Ele é, pré-determinadamente, considerado culpado, um proscrito mental sem direito a defesa ou argumentação plausível. Só lhes resta a fuga. E é dela que se socorre George na sua frieza calorosa de protector daquela cândida criança grande, sem compreensão que alcance que simples actos perdoáveis a uma criança, não lhe são aceites a ele.
Obcecado pela posse da terra e de animais de que pudesse tratar (sobretudo coelhos …), Lennie acaba por contaminar George com o seu entusiasmo pueril, apesar deste verbalizar amiúde a sua irritação pelo facto de Lennie lhes arranjar sempre problemas com a sua excessiva inocência. Chegados a um novo trabalho, logo George percebe que têm de se manter afastados da mulher do filho do patrão. E o seu presságio quanto ao papel que aquela mulher iria exercer nas suas vidas, confirma-se da pior forma possível. Em pânico, assustado, Lennie sufoca a jovem e foge (como era hábito nos momentos maus) para um local previamente combinado com o companheiro de viagem. Assim que George compreende os factos apresentados, dirige-se ao local e mantendo no amigo a ilusão de que tudo está bem, de que nada há a perdoar, fala-lhe suavemente sobre o seu sonho comum e dá-lhe um tiro mantendo essa ideia de felicidade nunca concretizada mas suficiente para Lennie no momento da sua morte. Perante o iminente linchamento de Lennie, o gesto de George é um acto de misericórdia, a piedade que só um amigo podia demonstrar.
E nunca mais fugiram.