Johannes Vermeer e a mulher Catharina procuram uma criada. Sabendo o notável pintor da tragédia que se havia abatido sobre a família de um pobre pintor de azulejos que ficara recentemente cego e, consequentemente, impossibilitado de trabalhar, dirige-se na companhia de Catharina a casa deste para avaliarem de perto Griet, a filha de dezasseis anos do infortunado artista.
Griet prepara os legumes para uma sopa e dispõe-nos de uma forma que imediatamente chama a atenção de Vermeer por nada possuir de aleatório. Uma estranha organização intencionalmente bela pela conjugação de cores e formas, inquieta o distinto pintor logo na primeira abordagem à jovem escolhida para servir em sua casa.
E também Catharina, grávida do sexto filho, mostra sinais de desconforto na presença da rapariga, como se uma ameaça à sua supremacia como Senhora da casa se manifestasse subitamente na pessoa da jovem que mal ler e escrever sabia mas que denotava uma sensibilidade que havia enlaçado Vermeer numa teia de cumplicidade a ela, a sua mulher, jamais poderia aspirar.
A intimidade do casal parecia expressar-se apenas nos filhos que os rodeavam e nos que vinham a caminho. De resto, Catharina nunca tinha sido pintada pelo marido e o seu atelier era um local proibido. Até chegar a criada encarregue de o limpar.
O poder de observação de Griet, permitia-lhe afastar objectos para arejar superfícies e colocá-los milimetricamente no mesmo local de onde os havia arredado. Assim, quando o Senhor se dispusesse a trabalhar, tudo estava imaculado, intocado, imune à contaminação do mundo exterior como sempre tinha estado.
Mas o seu Senhor pintava a um ritmo insuficiente para alimentar a família, era demasiado exigente consigo próprio, atormentava-o a obrigação de pintar para um mecenas, de ceder à sua vontade cénica e quando este lhe pede para o ajudar a misturar substâncias que resultariam em tinta para os seus quadros, Griet teme a ira de Catharina. Só com a ajuda de Maria Thins, a mãe da sua senhora, é que foi possível a concretização do sonho de estar próxima de Vermeer e do seu trabalho. E até quando se converteu em modelo do pintor, foi Maria Thins, mulher detentora de elevada astúcia e compreensão das necessidades familiares, que apreendeu que assim poderia o marido de sua filha trabalhar com maior rapidez.
Não contavam com a sagacidade malévola de Cornelia, a filha de Vermeer que se mostrara indomável como a mãe face à presença ameaçadora de Griet. Uma mulher e uma menina inseguras, que não sabiam distinguir entre o uso de um par de brincos de pérola para posar para um quadro a pedido do artista e a usurpação dos objectos por motivos pouco honestos.
Griet é vítima da sua dedicação ao génio de Vermeer e sucumbe apenas quando nem o pintor que lhe exigira a pose com o brinco de pérola luzindo ante a glória da pincelada que lhe dera vida, nem a protectora de todas as horas difíceis naquela casa se dignaram defendê-la ante a acusação infundada de Catharina que contra todas as previsões galgara a escadaria que conduzia ao atelier do marido, apesar do peso de mais uma gravidez, instigada por Cornelia.
É um livro que nos envolve desde o início e nos transporta para algumas das telas de Vermeer, para as histórias por detrás delas, e para a realidade de vozes, cheiros, tonalidades e sabores que o Mestre Flamengo terá experienciado. Uma leitura que brilha no meu horizonte de memórias literárias como um brinco de pérola cintilando eternamente, num jogo de luz sem fim.
Griet prepara os legumes para uma sopa e dispõe-nos de uma forma que imediatamente chama a atenção de Vermeer por nada possuir de aleatório. Uma estranha organização intencionalmente bela pela conjugação de cores e formas, inquieta o distinto pintor logo na primeira abordagem à jovem escolhida para servir em sua casa.
E também Catharina, grávida do sexto filho, mostra sinais de desconforto na presença da rapariga, como se uma ameaça à sua supremacia como Senhora da casa se manifestasse subitamente na pessoa da jovem que mal ler e escrever sabia mas que denotava uma sensibilidade que havia enlaçado Vermeer numa teia de cumplicidade a ela, a sua mulher, jamais poderia aspirar.
A intimidade do casal parecia expressar-se apenas nos filhos que os rodeavam e nos que vinham a caminho. De resto, Catharina nunca tinha sido pintada pelo marido e o seu atelier era um local proibido. Até chegar a criada encarregue de o limpar.
O poder de observação de Griet, permitia-lhe afastar objectos para arejar superfícies e colocá-los milimetricamente no mesmo local de onde os havia arredado. Assim, quando o Senhor se dispusesse a trabalhar, tudo estava imaculado, intocado, imune à contaminação do mundo exterior como sempre tinha estado.
Mas o seu Senhor pintava a um ritmo insuficiente para alimentar a família, era demasiado exigente consigo próprio, atormentava-o a obrigação de pintar para um mecenas, de ceder à sua vontade cénica e quando este lhe pede para o ajudar a misturar substâncias que resultariam em tinta para os seus quadros, Griet teme a ira de Catharina. Só com a ajuda de Maria Thins, a mãe da sua senhora, é que foi possível a concretização do sonho de estar próxima de Vermeer e do seu trabalho. E até quando se converteu em modelo do pintor, foi Maria Thins, mulher detentora de elevada astúcia e compreensão das necessidades familiares, que apreendeu que assim poderia o marido de sua filha trabalhar com maior rapidez.
Não contavam com a sagacidade malévola de Cornelia, a filha de Vermeer que se mostrara indomável como a mãe face à presença ameaçadora de Griet. Uma mulher e uma menina inseguras, que não sabiam distinguir entre o uso de um par de brincos de pérola para posar para um quadro a pedido do artista e a usurpação dos objectos por motivos pouco honestos.
Griet é vítima da sua dedicação ao génio de Vermeer e sucumbe apenas quando nem o pintor que lhe exigira a pose com o brinco de pérola luzindo ante a glória da pincelada que lhe dera vida, nem a protectora de todas as horas difíceis naquela casa se dignaram defendê-la ante a acusação infundada de Catharina que contra todas as previsões galgara a escadaria que conduzia ao atelier do marido, apesar do peso de mais uma gravidez, instigada por Cornelia.
É um livro que nos envolve desde o início e nos transporta para algumas das telas de Vermeer, para as histórias por detrás delas, e para a realidade de vozes, cheiros, tonalidades e sabores que o Mestre Flamengo terá experienciado. Uma leitura que brilha no meu horizonte de memórias literárias como um brinco de pérola cintilando eternamente, num jogo de luz sem fim.
4 comentários:
O livro nunca li mas o filme achei-o absolutamente delicioso.
Talvez deva de pensar em ler o livro em breve uma vez que estes são sempre melhores que qualquer adaptação cinematográfica.
Mónica: Sim, o filme é lindíssimo e embora, como dizes e com razão, geralmente os livros serem de qualidade superior às adaptações cinematográficas, neste caso existe um equilíbrio entre um e outro:)
Eu também nunca li o livro,mas achei o filme maravilhoso!E,tal como vocês,acho sempre que o livro é bem melhor que as adaptações,mas neste caso,e pelo que leio,será uma boa adaptação.
Joana: É uma adaptação absolutamente digna do livro, de qualidade muito semelhante, duas obras que se complementam se certa maneira...
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