sábado, abril 18, 2009

"A Feiticeira de Florença" de Salman Rushdie

Rushdie, Salman, A Feiticeira de Florença (The Enchantress of Florence), Dom Quixote, Tradução de J. Teixeira de Aguilar, 2008.

Ocidente e Oriente. Florença e o Indostão. O príncipe Lourenço de Médicis, Senhor da volátil cidade europeia e Akbar, o Imperador da remota terra exótica onde a fantasia reinava e uma Rainha invisível era a preferida do Rei.
Um viajante louro auto-denominando-se como Mogor dell’Amore, chega à grande capital do Reino de Indostão como enviado de Isabel I de Inglaterra, após ter pilhado os aposentos onde o verdadeiro Embaixador guardava o documento numa passagem breve mas profícua por um navio de piratas escoceses.
Inventou um conteúdo irreal para a missiva, atingindo o intento de se aproximar do Imperador. E quando a sua vida é ameaçada pela desconfiança que floresce na corte de Akbar e se vê enclausurado numa masmorra e mais tarde frente a frente com um elefante enraivecido, disposto a espezinhá-lo como um verme que desafiara o Reis dos Reis com histórias que o apontavam como tio do soberano, Mogor dell’Amore socorre-se de expedientes vários e acalma a fúria do animal destinado a executar a vontade do Senhor de Indostão.

Algo semelhante a um milagre sucedera e o Rei, rendido ao poder obscuro do pálido desconhecido, ouve a história composta por várias narrativas distintas com o objectivo último de revelar a origem verdadeira do forasteiro. Sangue real afirmara ele possuir. Filho de Qara Köz, a Dama Olhos Negros, irmã de Baber, pai de Akbar, Senhora de uma vida aventurosa e de uma beleza rara que enfeitiçava os homens e mitigava a inveja das mulheres.

A vida desta mulher que se atrevera a retirar o véu e que se fazia acompanhar pela sua serva, a “espelho” por ser tão surpreendentemente idêntica à ama, é contada em paralelo com a vida de três amigos florentinos que acabarão por se ver enredados na história de aclamação e queda da Feiticeira de Florença que de “Santa” se converte em “bruxa” após uma noite passada com Lourenço II de Médicis e morte rápida do Senhor de Florença. Ela embruxara-o, dizia o povo, lançara-lhe feitiço mortal. E a Dama Olhos Negros, zelara apenas pelo regresso do seu amado Argalia ao deitar-se com Lourenço. A cidade já ansiava pelo cheiro a carne humana queimada que as fogueiras exalavam nos tempos áureos da cristandade. A explicação da justiça era sobrenatural.

Tudo se conjuga de forma a que quase no fim das suas vidas, os três amigos se reúnam novamente e, apesar dos diferentes caminhos por que haviam optado, a fraternidade entre almas unidas pela amizade nunca fora olvidada.

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