domingo, agosto 30, 2009

"O Rapaz do Pijama às Riscas" John Boyne

Boyne, John, O Rapaz do Pijama às Riscas (The boy in the striped pyjamas), Asa, Tradução de Cecília Faria e Olívia Santos, 2009.

Numa história de contornos simples John Boyne consegue infiltrar o leitor no mundo em mudança de Bruno, uma criança dividida entre o universo protector que conhece e o exterior pleno de sombras indefiníveis por explorar e realidades paralelas em colisão com os ideais nazis representados pelo pai, recém-nomeado comandante de um campo de concentração.

As mutações sofridas na vida de Bruno entrecruzam-se com a própria metamorfose do Mundo face ao avanço megalómano nazi e o desmoronar da vida que sempre conhecera em Berlim coincide com a derrocada do Mundo livre.

O pequeno Bruno reúne em si a gravidade do despojamento violento com que o Mundo é sacudido, sobretudo o Mundo Judeu Europeu e os Mundos distintos não tolerados pela nova cultura “ariana” de perfeição.

Isolado na prisão sombria que constitui a nova casa da família, junto ao campo que o pai comanda, Bruno explora os bosques que circundam “Acho-Vil” e depara-se com um local vedado com arame farpado.
Ao aproximar-se vê que se encontra sentado junto à vedação um rapazinho de aspecto frágil, vestido com um estranho pijama às riscas. Shmuel e Bruno tornam-se amigos. Ambos fugitivos da casa que os adultos lhes impuseram. Unidos pela inocência, pelo total alheamento face à realidade de horrores que os rodeia, materializada pelos fumos que se erguem ao céu, a evasão possível.

Recomendo este livro porque já li muitas páginas de ficção e não ficção sobre o tema e encontrei nesta pequena obra originalidade na abordagem e na construção narrativa, provando que este é um tema inesgotável com desenlaces sempre passíveis de surpreender mesmo o leitor mais experimentado.

domingo, agosto 16, 2009

"O Rei de Ferro" de Maurice Druon

Druon, Maurice, O Rei de Ferro (Le Roi de Fer), GótiItálicoca, tradução de Helena Ramos, 2006.

Terminado que está este primeiro volume dos sete que constituem a saga “Os Reis Malditos” de Maurice Druon, fica o desejo de continuar a acompanhar as desditas dos reis amaldiçoados por Jacques de Molay, o Grão-Mestre da Sagrada Ordem dos Cavaleiros do Templo, naquele dia 14 de Março de 1314 quando a morte pela fogueira estava iminente após um processo de condenação fraudulento que retivera de Molay encarcerado durante sete anos até à execução final.

Agradou-me a forma como o autor humanizou as personagens históricas intervenientes nestes últimos anos do reinado de Filipe, o Belo, bem como as intrigas palacianas em que a corte francesa nesta primeira metade do século XIV se viu envolvida.

A frieza do Rei de França aqui retratado é lendária mas nesta aproximação, neste zoom com que Maurice Druon nos presenteia, deparamo-nos com pormenores de emoção de grande interesse e que vão desde a consciência de que a filha Isabel, Rainha de Inglaterra, daria uma mais adequada sucessora do que qualquer um dos três filhos, até ao terror final, à íntima certeza de que a maldição de Jacques de Molay de que os seus carrascos em breve seriam pó, se concretizara com uma precisão indubitável.

Em menos de 1 ano, os algozes do Grão-Mestre estavam, também eles, mortos em circunstâncias pouco claras deixando um reino a algumas gerações de ser levantada a desgraça que se abateria sobre as cabeças reais que se seguiam. Que venham os próximos volumes!