domingo, março 11, 2007

"Persuasão" de Jane Austen

A fortaleza das personagens femininas dos romances de Jane Austen, desponta em toda a sua glória com a heroína de “Persuasão”, Anne Elliot. Por detrás de uma aparência de fragilidade, de submissão incondicional a um pai indiferente e narcisista que vive rodeado de espelhos na mansão da família, e a uma irmã escrava das convenções sociais em vigor, Anne não abdica da sua independência intelectual.
Contudo, a personagem Anne Elliot sofre uma evolução nos dois momentos chave da obra. Enquanto jovem requestada por um simples Capitão da Marinha Britânica sem posição social nem fortuna, ela cede ao peso do parecer familiar: Wentworth não era um partido ao nível da fidalguia que o nome Elliot comportava. Apesar do amor que por ele sentia, Anne cede às exigências familiares, deixa-se persuadir por uma ilusão imposta e termina um noivado que nunca chegara a efectivar-se. Oito anos passados desde a decisão que a mortificara, Anne reencontra o Capitão Wentworth devido ao facto de Sir Walter Elliot se ver obrigado a alugar Kellynch-Hall, a casa no Somersetshire desde sempre habitada pela família, ao Almirante Croft e esposa (irmã do Capitão Wentworth), graças a problemas financeiros. E Anne, ao revê-lo e apesar do desinteresse aparente por ele manifestado, persuade-se de que nunca deixara de o amar. E é esta cedência íntima da heroína à inevitabilidade do seu amor por Wentworth que acompanhamos ao longo da quase totalidade do livro.
Wentworth mostra-se interessado em assentar, agora que conseguira posição e fortuna consideráveis após várias comissões no estrangeiro, no entanto, o orgulho ferido pela rejeição de que fora vítima, a certeza de que a Anne faltava o carácter necessário para impor uma vontade férrea, levam-no a procurar noiva noutra casa de família onde o seu nome não estivesse manchado pela lembrança de um tão ignominioso repúdio. Assim, Wentworth deixa-se também ele persuadir mas pela convicção de que a sua presença junto de uma certa jovem, era entendida como genuíno interesse e cede à possibilidade de ter de, por uma questão de honra, pedir a mão em casamento a Louisa Musgrove.
Preparado que estava para assumir as suas responsabilidades, um incidente com Louisa obriga-a a convalescer na companhia de um amigo de Wentworth e com a ausência deste, um inesperado noivado é dado a conhecer entre ambos. Wentworth estava liberto da suposta obrigação em que se vira enredado.
E desta forma, o antigo sentimento que o unira a Anne aflora-lhe novamente ao coração e deixa-se abandonar, persuadido que finalmente estava de que nunca deixara de a amar, ao fito único de a “acompanhar” onde quer que ela se encontrasse.
Um feliz desencadear de acontecimentos, provocados por acasos duvidosos (parecendo mais “manipulados” por um braço mecânico que consolida as peças da história por forma a que Anne e Wentworth se encontrassem frente a frente desnudados de preconceitos) provocam a compreensão de ambos os envolvidos nesta história de amor, a compreensão de que é inútil fugir ao sentimento que os avassala e de que os outros são apenas isso: Outros. O tempo é dos que se amam e o amor vence sempre. Jane Austen dixit.

10 comentários:

Anónimo disse...

É, sem dúvida, uma boa síntese da obra, a autora está de parabéns!

Carla Gomes disse...

Muito obrigado pela visita e pelo comentário:)

Anónimo disse...

Carla,

Realmente, você foi muito feliz na síntese...
Esta mudança no comportamento de Anne é extraordinária, não cosegui deixar de reler o livro várias vezes...

As versões cinematográficas que assisti, que foram só duas (1997 e 2007), ilustra isso, na versão de 1997, com Ciaran Hinds e Amanda Root, a transformação da personagem, Anne Elliot, é mais acentuada.

Obrigada, Carla!

Carla Gomes disse...

Muito obrigada eu pelo comentário que aqui deixou Cláudia:)
Esta é, realmente, uma obra fora de série... Daquelas que nos faz sentir privilegiados enquanto leitores:)

Anónimo disse...

Olá!!!
Gostei imenso deste resumo. Capta muito bem a essência do livro.
Eu gosto muito de Jane Austen, tenho 3 livros dela e, simplesmente adoro-os.

Carla Gomes disse...

Ema, é uma obra para ser partilhada dada a sua qualidade e actualidade... É incrível como uma autora como Jane Austen consegue permanecer tão actual, a escrita de excelência é eterna:)

janita disse...

Olá,

Há muito tempo que procuro este livro nas livrarias, por acso não me sabe dizer onde o posso arranjar.

Deixo-lhe o meu email almeijoao@gmail.com

Obrigado

Anónimo disse...

Olá..será que vc poderia me mandar o livro? por favor!!
jessicanomada@gmail.com

obgda..bjs

Anónimo disse...

Excelente síntese!
Vc saberia dizer o que posso fazer para comprar o dvd?
Meu e-mail:
prc1215@yahoo.com.br
Agradeço qualquer informação.
Abs.
Patrícia Carmona.
Moro no Rio de janeiro.

Anónimo disse...

hiya


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