Na introdução à primeira edição, Rodolfo Martinez revela ao leitor como um amigo professor em Londres lhe oferecera um conjunto de manuscritos inéditos escritos pelo Dr. Watson adquiridos numa loja de antiguidades perto do Soho e de como, movido por um incontido entusiasmo holmesiano se dedicara à tarefa de os traduzir para castelhano.
A concepção original da obra é-nos imediatamente dada a conhecer através do revestimento de autenticidade da história apresentada a dois níveis diversos: Rodolfo Martinez surge como “mero” tradutor dos três manuscritos a que temos acesso quando, na realidade, é autor das várias ficções sobrepostas com que nos deparamos; e Artur Conan Doyle é-nos descrito como o Agente de Watson, verdadeiro autor de todas as Aventuras de Sherlock Holmes impressas e em grande medida responsáveis pela notoriedade do grande detective.
Dispõem-se, então, perante o leitor, várias ficções encetadas por Rodolfo Martinez com o intuito de soarem a realidade, tanto a ficção de que ele é o tradutor de textos inéditos (quando é o autor), como a de que os casos em que Holmes se envolveu são reais e contados pelo seu velho amigo Watson, o autêntico autor confundido com Conan Doyle.
Enquanto leitores somos igualmente confrontados, por exemplo, com a curiosa revelação de alguns pormenores desconhecidos dos anos em que Holmes fora dado como morto após a queda nas cataratas de Reichenbach.
A obra é composta, conforme já referi, por três histórias distintas, três casos em que Holmes, Watson e o Inspector Lestrade entram em cena.
Na primeira, denominada “A Sabedoria dos Mortos”, Holmes e Watson descobrem que a personagem criada pelo detective aquando da sua “morte”, Sigurd Sigerson, está a ser usada por um impostor afim de colocar em prática o intento de roubar Necronomicon ou Livro dos Mortos à Irmandade “Aurora Dourada”, legítima guardiã do perigoso volume que, segundo rezava a lenda, provocava a abdicação de príncipes e consequente usurpação do respectivo trono.
Deste texto sobressai a extrema capacidade de Sherlock em incomodar os menos aptos intelectualmente (neste caso, Arthur Conan Doyle, o afectado agente de Watson cujo incómodo ante a presença de Holmes denotava o seu sentimento de inferioridade face ao mestre), a amizade e lealdade comoventes entre Watson e Holmes, a equivalência intelectual do oponente de Sherlock que demonstra ser tão hábil na técnica do disfarce como o nosso detective, a figura já subversiva e influente de Aleister Crowley nos círculos esotéricos londrinos e a tibieza intelectual de Lestrade em relação a um jovem colega da Scotland Yard, merecedor da admiração do próprio Sherlock.
O segundo texto “traduzido” por Rodolfo Martinez é “Desde a Terra mais além do Bosque”, um duelo entre duas das personagens mais fascinantes da literatura de língua inglesa do século XIX: Sherlock Holmes e Drácula.
O inesperado regresso do Conde Vlad Dracul a Londres, previsto pelo Dr. John Seward que, de visita à Transilvânia, reconhecera dois olhos que o encararam como sendo os do Conde num corpo diferente, desencadeia uma série de acontecimentos que colocam no encalço do Conde Seward e Van Helsing, surpreendido em Amsterdão com este novo despertar.
Já em Londres, Sherlock Holmes, o Inspector Lestrade, o Dr. Watson, Van Helsing e o Dr. John Seward encontram-se no Mausoléu da família Saville onde Lord Robert Saville ainda não repousava em paz, escravo da vontade dominadora de Drácula sequioso de vingança.
Considerei interessante este encontro de personagens brilhantes como é o caso de Van Helsing e de Holmes que num primeiro relance se reconhecem sem se conhecerem.
“A Aventura do Assassino Fingido” é o mais curto dos três contos e explora o sentimento de posse de um irmão face a uma irmã, noiva de um jovem que procura Watson na ausência, julgava-se definitiva de Holmes.
A aptidão de Holmes para a utilização do disfarce perfeito é bem evidente nesta narrativa, provocando a desconfiança de Watson e Lestrade que encaram o homem gorducho em que Holmes se convertera como o principal suspeito da morte de Rose Constable. Watson escrevera ao amigo relatando os contornos do caso que Copper lhe expusera e Sherlock Holmes, embora retirado do ofício que o celebrizara, surge disfarçado para melhor apurar os factos nebulosos descritos por Watson.
Este último escrito com que a obra de Rodolfo Martinez finda, transmite-nos a agradável sensação de Holmes nunca deixará de investigar os casos mais difíceis e que Watson e Lestrade continuarão a acompanhá-lo no deslindar dos mais complexos enigmas, tão imortais como Sherlock Holmes.
A concepção original da obra é-nos imediatamente dada a conhecer através do revestimento de autenticidade da história apresentada a dois níveis diversos: Rodolfo Martinez surge como “mero” tradutor dos três manuscritos a que temos acesso quando, na realidade, é autor das várias ficções sobrepostas com que nos deparamos; e Artur Conan Doyle é-nos descrito como o Agente de Watson, verdadeiro autor de todas as Aventuras de Sherlock Holmes impressas e em grande medida responsáveis pela notoriedade do grande detective.
Dispõem-se, então, perante o leitor, várias ficções encetadas por Rodolfo Martinez com o intuito de soarem a realidade, tanto a ficção de que ele é o tradutor de textos inéditos (quando é o autor), como a de que os casos em que Holmes se envolveu são reais e contados pelo seu velho amigo Watson, o autêntico autor confundido com Conan Doyle.
Enquanto leitores somos igualmente confrontados, por exemplo, com a curiosa revelação de alguns pormenores desconhecidos dos anos em que Holmes fora dado como morto após a queda nas cataratas de Reichenbach.
A obra é composta, conforme já referi, por três histórias distintas, três casos em que Holmes, Watson e o Inspector Lestrade entram em cena.
Na primeira, denominada “A Sabedoria dos Mortos”, Holmes e Watson descobrem que a personagem criada pelo detective aquando da sua “morte”, Sigurd Sigerson, está a ser usada por um impostor afim de colocar em prática o intento de roubar Necronomicon ou Livro dos Mortos à Irmandade “Aurora Dourada”, legítima guardiã do perigoso volume que, segundo rezava a lenda, provocava a abdicação de príncipes e consequente usurpação do respectivo trono.
Deste texto sobressai a extrema capacidade de Sherlock em incomodar os menos aptos intelectualmente (neste caso, Arthur Conan Doyle, o afectado agente de Watson cujo incómodo ante a presença de Holmes denotava o seu sentimento de inferioridade face ao mestre), a amizade e lealdade comoventes entre Watson e Holmes, a equivalência intelectual do oponente de Sherlock que demonstra ser tão hábil na técnica do disfarce como o nosso detective, a figura já subversiva e influente de Aleister Crowley nos círculos esotéricos londrinos e a tibieza intelectual de Lestrade em relação a um jovem colega da Scotland Yard, merecedor da admiração do próprio Sherlock.
O segundo texto “traduzido” por Rodolfo Martinez é “Desde a Terra mais além do Bosque”, um duelo entre duas das personagens mais fascinantes da literatura de língua inglesa do século XIX: Sherlock Holmes e Drácula.
O inesperado regresso do Conde Vlad Dracul a Londres, previsto pelo Dr. John Seward que, de visita à Transilvânia, reconhecera dois olhos que o encararam como sendo os do Conde num corpo diferente, desencadeia uma série de acontecimentos que colocam no encalço do Conde Seward e Van Helsing, surpreendido em Amsterdão com este novo despertar.
Já em Londres, Sherlock Holmes, o Inspector Lestrade, o Dr. Watson, Van Helsing e o Dr. John Seward encontram-se no Mausoléu da família Saville onde Lord Robert Saville ainda não repousava em paz, escravo da vontade dominadora de Drácula sequioso de vingança.
Considerei interessante este encontro de personagens brilhantes como é o caso de Van Helsing e de Holmes que num primeiro relance se reconhecem sem se conhecerem.
“A Aventura do Assassino Fingido” é o mais curto dos três contos e explora o sentimento de posse de um irmão face a uma irmã, noiva de um jovem que procura Watson na ausência, julgava-se definitiva de Holmes.
A aptidão de Holmes para a utilização do disfarce perfeito é bem evidente nesta narrativa, provocando a desconfiança de Watson e Lestrade que encaram o homem gorducho em que Holmes se convertera como o principal suspeito da morte de Rose Constable. Watson escrevera ao amigo relatando os contornos do caso que Copper lhe expusera e Sherlock Holmes, embora retirado do ofício que o celebrizara, surge disfarçado para melhor apurar os factos nebulosos descritos por Watson.
Este último escrito com que a obra de Rodolfo Martinez finda, transmite-nos a agradável sensação de Holmes nunca deixará de investigar os casos mais difíceis e que Watson e Lestrade continuarão a acompanhá-lo no deslindar dos mais complexos enigmas, tão imortais como Sherlock Holmes.
4 comentários:
Bom dia Carla!
Este livro para mim tem um significcado muito importante, foi graças à Sabedoria dos Mortos que conheci Conan Doyle... um dos escritores que gosto mais e de que tenho quase tudo lido.
Por outro lado como livro de Rodolfo Martinez, penso que é um livro muito bem construido, explora muito bem a escrita de Conan Doyle... arrisco-me a dizer que é mais fiel ao criador, do que o livro "As Novas Aventuras de Sherlock Holmes" escrito pelo próprio filho de Doyle mais um amigo do pai(Doyle), e aliada a esta capacidade adoptiva está todo o involcro do Fantástico combinado com uma boa dose de Hermetistmo e Horror.. mais uma bela edição da Saida de Emergência!
Um beijo
Sir Arthur Conan Doyle deixou-nos um legado imenso com a personagem Sherlock Holmes e o original é o original. Superior, claro, a todos os "remakes" que se lhe seguiram. Mas esta obra de Rodolfo Martinez, agarra muito bem a personagem e as circunstâncias que a envolvem. Recria com mestria o universo holmesiano.
Beijinhos:)
Interessante e complexo na arquitectura ficcional.
É sempre de premiar uma homenagem a Arthur Conan Doyle, a meu ver!
Obrigada, Carla! :)
É verdade Ana! Sem querermos, lá estamos no encalço de Conan Doyle e de Sherlock...
Beijinhos:)
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