sábado, agosto 23, 2008

"O Terceiro Passo" de Christopher Priest

Priest, Christopher, O Terceiro Passo (The Prestige), Saída de Emergência, Tradução de Isabel C. Penteado, 2006.

“O Terceiro Passo” é muito mais do que uma história de dois mágicos rivais que se perseguem e que vivem obcecados com a evolução artística de cada um.

É uma narrativa de duplicidade, de desdobramento, de tragédia, de vingança, de cumplicidade e de divergência.
É um canto de amor às artes mágicas tendo como protagonistas dois sôfregos seguidores do ilusionismo, dispostos a dedicarem todos os recursos físicos e morais ao objectivo dual de evoluírem artisticamente e de se sobreporem e esmagarem mutuamente.

A introdução no espectáculo de um dos mágicos de um truque impossível provoca a admiração do rival que procura encontrar uma explicação racional para o que acabara de assistir. É compelido a investigar a vida pessoal do inimigo e conclui que o artifício que presenciara era resultado de verdadeira magia ou ciência.
Atravessa um oceano para encomendar uma máquina que o rival de Edison, Tesla, exilado e derrotado pela fama daquele outro, poderia construir, uma máquina que o teletransportaria para um local previamente escolhido, tornando-se no novo Homem transportado.

A simplicidade do truque de Borden, converte-se em Angier numa culpa sem remorso, numa eternidade retalhada e construída com base no permanente nascimento, morte e renascimento do mágico. Ele passa a dispor da vida humana que cria todas as noites com omnipotência desafiadora e perde noção de humanidade.

A moralidade, a amoralidade, a dualidade bem/ mal, a revelação de que a verdadeira magia está na preparação do espectador e na aparição do elemento ausente, tudo se conjuga para que os dois homens sejam confrontados com decisões determinantes para a sua salvação ou perdição. Eles são responsáveis pelo seu destino. Eles são o resultado das suas escolhas.

E um deles é um anjo caído.

Obra inigualável pela inteligência do enredo, profundidade e subtis variações na psique das personagens, recriação do ambiente nas salas de espectáculo da Londres vitoriana e escrita absolutamente cativante. A combinação de todos os factores atrás enumerados traduziu-se numa leitura relâmpago que mesmo na última linha, mesmo depois do ponto final derradeiro, deixou a leitora abandonada a uma perplexidade atribuível à imensidão literária que este livro alcança.

4 comentários:

Pedro disse...

Já tenho ouvido grandes opiniões sobre este livro, muito positivas. Pelos vistos, tenho mesmo de lê-lo, coisa que até agora nunca me fascinou demasiado... Mas a partir do momento que caracterizas a imensidão literária da obra, acho que é um "must-read"!

Célia disse...

Já conheço a história deste livro porque vi a adaptação cinematográfica (muito boa, diga-se de passagem). O livro está na minha estante à espera de ser lido, mas todas as opiniões que tenho lido são extremamente positivas.

Carla Gomes disse...

Pedro: Este não te pode escapar, é simplesmente indispensável!

Carla Gomes disse...

Canochinha: A adaptação cinematográfica do Christopher Nolan é excelente, aliás vi o filme quase 1 ano antes de ter oportunidade de ler o livro e quando peguei nele foi para nunca mais o largar... É uma leitura deliciosa que se bebe com o deleite de quem sabe estar a saborear um grande livro:)