
No mundo incrível a que Mervyn Peake deu o nome de Gormenghast, o leitor vislumbra uma terra com algumas menções espaciais que não identifica à luz da sua realidade e as referências temporais limitam-se à passagem de dias, meses ou anos, não sendo possível reter os acontecimentos numa redoma temporal que reconheçamos como nossa.
Tudo se estrutura de forma invertida, numa confusão premeditada de personagens fantásticas com funções assombrosas e aparência admirável.
Titus Groan é filho da Condessa e do Conde Sepulchrave, o último de uma linhagem antiga e poderosa dentro dos muros do castelo, submissa aos rituais imemoriais que haviam tornado a Casa de Groan um bastião de obediência a essas cerimónias por vezes sem sentido que Sourdust primeiro e o filho Barquentine depois se asseguravam de garantir sem que percebamos jamais o seu propósito. Os protocolos poeirentos de Gormenghast desgastavam Sepulchrave mas eram cumpridos sem qualquer objecção ocupando-lhe grande parte do dia até que, por fim, se deleitava junto da única companhia que lhe proporcionava verdadeira satisfação: os seus livros.
Titus nasce e a Condessa pede à Ama Slagg para a criança lhe ser imediatamente retirada e apenas o voltar a ver quando tiver completado seis anos, mais importância parece dar aos inúmeros pássaros e gatos que a rodeiam e com os quais comunica. Mesmo Lorde Sepulchrave não denota interesse pelo filho senão pelo facto de ser o herdeiro de Gormenghast e em consequência guardião dos rituais sem sentido que tornavam Gormenghast um reino desolado de trevas e escadas tortuosas que desembocavam invariavelmente num outro compartimento de Gormenghast. Um labirinto do qual não parece ser possível escapar.
Apenas Fuchsia, a filha mais velha de Lorde Sepulchrave e da Condessa, se aventura em locais onde o verde da natureza ou o azul do céu se lhe insinuam como que a desafiando a transpor barreiras, convenções e preconceitos com que se via rodeada no castelo.
É como se o mundo no castelo se apresentasse a preto e branco e a verdadeira vida estivesse para lá dessas muralhas. Até conhecer Steerpike. Um jovem ambicioso que é encontrado por Fuchsia ferido numa sala por si dominada. Steerpike foge da cozinha e do seu terrível Chefe Swelter e ilumina e torna colorida com os seus embustes a monótona vida do castelo. Steerpike fascina Fuchsia sem que esta o admita ou até o depreenda conscientemente. Entra no seu espaço secreto e deixa o odor da sua presença de liberdade no coração de Fuchsia, compreende-a, lê o seu coração como ninguém. Fuchsia será a única pessoa de quem Steerpike se aproxima desinteressadamente.
A escrita de Mervyn Peake é uma escrita repleta de cores e movimentos, acções e expressões, uma escrita eminentemente plástica, digna de uma adaptação de Tim Burton… O filtro gótico que Peake empresta a esta obra melancólica, cheia de um sentimento de perda comum a todas as personagens, o contraste entre os vestidos roxos das irmãs loucas de Sepulchrave e o vestido vermelho de Fuchsia e ainda o ambiente de ódio entre o decrépito Flay e o obeso Swelter que culmina com um combate até à morte, para além de todos os improváveis de que o livro é incrustado, tornam-na indispensável.
Tudo se estrutura de forma invertida, numa confusão premeditada de personagens fantásticas com funções assombrosas e aparência admirável.
Titus Groan é filho da Condessa e do Conde Sepulchrave, o último de uma linhagem antiga e poderosa dentro dos muros do castelo, submissa aos rituais imemoriais que haviam tornado a Casa de Groan um bastião de obediência a essas cerimónias por vezes sem sentido que Sourdust primeiro e o filho Barquentine depois se asseguravam de garantir sem que percebamos jamais o seu propósito. Os protocolos poeirentos de Gormenghast desgastavam Sepulchrave mas eram cumpridos sem qualquer objecção ocupando-lhe grande parte do dia até que, por fim, se deleitava junto da única companhia que lhe proporcionava verdadeira satisfação: os seus livros.
Titus nasce e a Condessa pede à Ama Slagg para a criança lhe ser imediatamente retirada e apenas o voltar a ver quando tiver completado seis anos, mais importância parece dar aos inúmeros pássaros e gatos que a rodeiam e com os quais comunica. Mesmo Lorde Sepulchrave não denota interesse pelo filho senão pelo facto de ser o herdeiro de Gormenghast e em consequência guardião dos rituais sem sentido que tornavam Gormenghast um reino desolado de trevas e escadas tortuosas que desembocavam invariavelmente num outro compartimento de Gormenghast. Um labirinto do qual não parece ser possível escapar.
Apenas Fuchsia, a filha mais velha de Lorde Sepulchrave e da Condessa, se aventura em locais onde o verde da natureza ou o azul do céu se lhe insinuam como que a desafiando a transpor barreiras, convenções e preconceitos com que se via rodeada no castelo.
É como se o mundo no castelo se apresentasse a preto e branco e a verdadeira vida estivesse para lá dessas muralhas. Até conhecer Steerpike. Um jovem ambicioso que é encontrado por Fuchsia ferido numa sala por si dominada. Steerpike foge da cozinha e do seu terrível Chefe Swelter e ilumina e torna colorida com os seus embustes a monótona vida do castelo. Steerpike fascina Fuchsia sem que esta o admita ou até o depreenda conscientemente. Entra no seu espaço secreto e deixa o odor da sua presença de liberdade no coração de Fuchsia, compreende-a, lê o seu coração como ninguém. Fuchsia será a única pessoa de quem Steerpike se aproxima desinteressadamente.
A escrita de Mervyn Peake é uma escrita repleta de cores e movimentos, acções e expressões, uma escrita eminentemente plástica, digna de uma adaptação de Tim Burton… O filtro gótico que Peake empresta a esta obra melancólica, cheia de um sentimento de perda comum a todas as personagens, o contraste entre os vestidos roxos das irmãs loucas de Sepulchrave e o vestido vermelho de Fuchsia e ainda o ambiente de ódio entre o decrépito Flay e o obeso Swelter que culmina com um combate até à morte, para além de todos os improváveis de que o livro é incrustado, tornam-na indispensável.