domingo, maio 10, 2009

"A Vida de Sonho de Sukhanov" de Olga Grushin

Grushin, Olga, A Vida de Sonho de Sukhanov (The Dream Life of Sukhanov), Bizâncio, Tradução de Francisco Agarez, 2007.

A salvação de um homem pela arte, eis uma das problemáticas abordadas no universo de realismo mágico que Olga Grushin nos apresenta com este seu “A Vida de Sonho de Sukhanov”.
Anatoly Sukhanov é um microcosmo da sociedade russa dos últimos sessenta anos, representando em simultâneo o que de mais nobre e o que de mais deplorável subjaz na sombra desse período da história do seu país.

Enquanto jovem, a sua ideologia artística centra-se nos movimentos nascentes com os quais se identifica e segue o seu impulso criativo rumo à criação de um estilo próprio, nunca renegando contudo os grandes mestres russos proscritos por não pintarem arte para o povo. Sukhanov tinha uma vida artística dupla: onde leccionava, expunha a arte oficial, aquela que lhe era exigida pelo poder político (infiltrado em todas as vertentes da sociedade) e em casa, escondia o seu pequeno mundo de verdade artística, imune à influência desviante da arte partidária. No apartamento onde vivia com a mãe, as asas recolhidas durante o dia, abriam-se à imensidão de liberdade que o aguardava em cada nova obra.

Quando conhece Nina Malinina, filha de um conceituado pintor arregimentado na ordem estabelecida, a sua arte é transformada pelo aparecimento da musa mas, com o tempo, com o resvalar das certezas que o haviam tornado homem e pintor, com as dificuldades e incapacidade de ser o que de si era esperado pela sereia que povoava a sua realidade, Anatoly cede ao apelo dos vencedores, instala-se como seguidor daqueles que tanto desprezara, torna-se ele próprio um manipulador de mentes, contribuindo para o “bem comum”.

Os vinte anos de escuridão que se seguem são ilusoriamente felizes preenchidos de feitos ilusoriamente significativos.
Até que um dia, pequenos acontecimentos simples, plenos de casualidade, desencadeiam em Anatoly Sukhanov as recordações do que havia sido, de quem havia feito parte da sua vida e eis que a caixa empoeirada que enterrara no seu coração se abria e ele penetrava no seu interior como Alice na toca do coelho. Revisita todos os momentos desse passado que julgava perdido e compreende que a renegação de valores em que tão resolutamente acreditava o conduzira ao estado de confusão e perda de identidade em que se encontrava.

Sukhanov empreende uma viagem de sonho na sua vida de pesadelo e, ao vaguear nos recessos mais esconsos da sua alma vê, finalmente, a luz
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