José de Risso nascera fruto da mentira de um caixeiro-viajante com quem a mãe tivera um único encontro de Amor. O encontro seguinte seria no dia em que alguém o vira afastar-se em passada apressada por entre os castanheiros e os carvalhos que circundavam Vilarinho dos Loivos.
Logo após o seu nascimento, todos os rituais e visitas tradicionais de aldeia decorreram com a mãe já agonizante e logo aí as velhas anciãs da aldeia apontaram a pequena marca vermelha em forma de folha de carvalho que o marcava para a vida. A superstição ditava que tal marca era um sinal de desgraça e que o seu portador atrairia desditas e outros males a si e aos que de alguma forma consigo se relacionassem.
A partir daqui, assistimos ao desenrolar dos pequenos acontecimentos que distinguem a vida de José de Risso da dos restantes habitantes da aldeia de Vilarinho dos Loivos. Os gestos mais simples o demarcam dos outros e porque herdeiro de um conjunto de “mezinhas” ensinadas pela avó que aplica quando solicitado por um vizinho com um problema de saúde que nem médico, nem bruxo consegue curar, José de Risso adquire fama de curandeiro, apesar de pedir aos que o procuram que não seja revelada a sua identidade. Esta capacidade de curar através da combinação de ervas e produtos provenientes da natureza, juntamente com a marca em forma de carvalho que lhe granjeia fama de desgraçado e de abençoado em simultâneo, conduz a sua vida por meandros nem sempre rectos e benfazejos.
De facto, observamos José de Risso envolvido em esquemas menos lícitos com a viúva galega fugida da guerra civil em Espanha, Purisima de la Concepción, e protagonista de uma suposta aparição do noivo morto à louca do Cortinhal, convencida que ficara de que o Crispim a visitava todas as noites no Curral em que a família se vira obrigada a encerrá-la.
O que me parece verdadeiramente fascinante nesta criação de José Riço Direitinho, é o facto de ter compactado numa única personagem um misto de herói e anti-herói. Momentos há em que o leitor se sente do lado de José de Risso, outros em que sente uma repulsa justificada pelos actos pouco meritórios do protagonista. Ele vive como um Cristo e como um Lucífer, tão depressa presta auxilio ao seu próximo, como o despedaça e destrói sem piedade. Parece-me ser, com um toque natural de exagero, uma personificação do Homem, no sentido em que não há homens santos, nem há homens absolutamente maus, aliás, o cerne da questão é que o absoluto não existe. A prática constante do Bem ou a prática interminável do mal não são plausíveis. Cada Homem, cada Ser-Humano vive o seu tempo, o tempo que lhe é concedido agindo com frequência de forma correcta e também errando amiúde. A ponderação é, talvez, a nossa melhor arma para nos julgarmos a nós próprios nesta que é a nossa eterna luta inglória: aproximarmo-nos o mais possível da divindade.
Logo após o seu nascimento, todos os rituais e visitas tradicionais de aldeia decorreram com a mãe já agonizante e logo aí as velhas anciãs da aldeia apontaram a pequena marca vermelha em forma de folha de carvalho que o marcava para a vida. A superstição ditava que tal marca era um sinal de desgraça e que o seu portador atrairia desditas e outros males a si e aos que de alguma forma consigo se relacionassem.
A partir daqui, assistimos ao desenrolar dos pequenos acontecimentos que distinguem a vida de José de Risso da dos restantes habitantes da aldeia de Vilarinho dos Loivos. Os gestos mais simples o demarcam dos outros e porque herdeiro de um conjunto de “mezinhas” ensinadas pela avó que aplica quando solicitado por um vizinho com um problema de saúde que nem médico, nem bruxo consegue curar, José de Risso adquire fama de curandeiro, apesar de pedir aos que o procuram que não seja revelada a sua identidade. Esta capacidade de curar através da combinação de ervas e produtos provenientes da natureza, juntamente com a marca em forma de carvalho que lhe granjeia fama de desgraçado e de abençoado em simultâneo, conduz a sua vida por meandros nem sempre rectos e benfazejos.
De facto, observamos José de Risso envolvido em esquemas menos lícitos com a viúva galega fugida da guerra civil em Espanha, Purisima de la Concepción, e protagonista de uma suposta aparição do noivo morto à louca do Cortinhal, convencida que ficara de que o Crispim a visitava todas as noites no Curral em que a família se vira obrigada a encerrá-la.
O que me parece verdadeiramente fascinante nesta criação de José Riço Direitinho, é o facto de ter compactado numa única personagem um misto de herói e anti-herói. Momentos há em que o leitor se sente do lado de José de Risso, outros em que sente uma repulsa justificada pelos actos pouco meritórios do protagonista. Ele vive como um Cristo e como um Lucífer, tão depressa presta auxilio ao seu próximo, como o despedaça e destrói sem piedade. Parece-me ser, com um toque natural de exagero, uma personificação do Homem, no sentido em que não há homens santos, nem há homens absolutamente maus, aliás, o cerne da questão é que o absoluto não existe. A prática constante do Bem ou a prática interminável do mal não são plausíveis. Cada Homem, cada Ser-Humano vive o seu tempo, o tempo que lhe é concedido agindo com frequência de forma correcta e também errando amiúde. A ponderação é, talvez, a nossa melhor arma para nos julgarmos a nós próprios nesta que é a nossa eterna luta inglória: aproximarmo-nos o mais possível da divindade.
10 comentários:
Carla, por várias razões tenho tido pouco tempo para visitar os blogs amigos. Agora, sei que com gosto voltarei para ler as tuas sempre excelentes escolhas literárias!
Passo para te deixar um abraço natalício e um monte de beijinhos amigos! :)
Feliz Natal, Carla! Com muitos sonhos concretizados de amor e amizade universais!
Ana, muito obrigado pelos votos que retribuo com muito carinho e amizade!
Feliz Natal para ti Ana, repleto das coisas mais comuns mas que, no fundo são as mais importantes: Amor, Paz e Saúde!
Beijinhos muito amigos:)
Hmm, pelo que ja li de críticas, o Direitinho é um bom contista e também, como aqui neste pedaço se viu, tem uma escrita rural mas que também pesquisa o "interior" geográfico das personagens. Numa entrevista ele disse-se influenciado por Thomas Bernhard, o que é dizer imenso!
Beijo e bom natal
Foi a minha primeira incursão pela obra de José Riço Direitinho e não será a última, é muito cru na forma como conta a história e a principal fonte de riqueza da obra é a forma como desnuda as personagens, com a simplicidade de quem diz a "verdade", sem "gaguejar".
Espero que tenhas tido um Feliz Natal pròximo dos que te sâo mais proximos:)
Bjs.
Um Feliz 2008 para ti, Carla! :) Com muitas, muitas magníficas e imperdíveis leituras! Como a gente gosta! :)
Beijinhos amigos da Ana Paula
Obrigada Ana! e que tudo o que mais desejas seja uma realidade neste ano de 2008!
Beijinhos amigos:)
Um espaço interessante!
A literatura é uma arte, e para mim a leitura tambem o é, no entanto poucos a conhecem, e aqui elas existem! Parabens!
Autores que gostava de ler, assim que consiga esvaziar o stock, como Fiodor Dostoievski, que já ouvi falra muitissimo bem, assim como Goethe.
Gosto de Stephen King, li O Talismã e Insónia, tenho também o Shining para ler, mas só depois de comprar é que reparei que era só o primeiro volume, falta-me achar o segundo...= (
Vou estar atento às proximas edições de À Margem,
Vai ficar linkada no meu blog!
Obrigado!
Boas Leituras!
Obrigado pela visita Miguel:)
E já que falaste em Stephen King... É um autor excepcional, mas antes de ler alguma coisa dele a minha postura era de desconfiança, pensava que poderia ser mais um daqueles autores de best-sellers sem grande capacidade de escrita... Ainda bem que me enganei, King é um escritor de mão cheia para além de um criativo fora de série e Shining era um sonho de há muito (obviamente por causa do filme de Kubrick).
Obrigada pelo "post"! Vi hoje, pela primeira vez um livro de José Riço Direitinho, numa livraria em Berlim e apesar de ter percebido muito pouco da tradução alemã, fiquei curiosa e... vim parar a este belo espaço encorpado de letras. Ainda não sei quando, mas hei-de dedicar tempo a leitura de J.R.Direitinho. Reitero o agradecimento!
Eugénia Brito
Eugénia: Obrigada eu pela visita ao À Margem:) José Riço Direitinho é, sem sombra de dúvida, um dos nomes mais proeminentes da nova geração de escritores portugueses como tal, não posso de lhe recomendar a sua leitura:) Teria curiosidade de o ler em alemão ou inglês, conseguirão os tradutores manter aquela riqueza linguísticaa que transpira das suas obras? Talvez com tempo, um dia, o confirme!
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