Dois amigos com sensibilidades diferentes reencontram-se na etapa final das suas vidas no castelo de um deles, local onde se concentram todas as memórias comuns, todos os quadros de união e clivagem entre ambos.
Não se viam há quarenta e um anos e, no entanto, essa ausência, esse espaço que se criara entre eles e que fora preenchido por anos de inquietude e por uma paciência rendilhada de íntimas certezas, era uma quase garantia de que se voltariam a encontrar, de que tudo o que fora dito apenas com a argúcia do olhar seria, no momento do reencontro, proferido por meio de palavras audíveis, com a objectividade que a espera de décadas tornara possível.
Konrád era proveniente de uma família que vivia com dificuldades e que se sacrificara para o enviar para a Academia militar, já ao General era-lhe proporcionada uma vida de abastança e a escolha da carreira militar tinha tanto de natural como de genuína inclinação do garboso jovem sem génio artístico, prático e racional nas suas preferências.
O amigo rico torna-se “protector” do amigo pobre complementando-se como companheiros inseparáveis. A amizade que os une é pura e inequívoca mas à medida que as suas personalidades se vincam pendendo a índole de um para a música e a de outro para as coisas da guerra, demonstrando até incompreensão e desprezo pela “utilidade” da música, a sua amizade dilui-se na perplexidade, na descoberta de que o outro é, afinal, diferente, fraco por se entregar à arte em detrimento da entrega à pátria, incapaz por não reconhecer a improficuidade do solo que escolhera pisar, a infertilidade da semente que ousara lançar.
A amizade cedia terreno à ruptura definitiva.
O General casa-se com Krisztina e também ela é diferente.
Numa caçada Kónrad aponta a arma ao amigo e este, apesar de se encontrar de costas, pressente a tentação e principia uma reflexão sobre o que motivara aquele momento e essa meditação dura quarenta e um anos porque Kónrad parte, desaparece sem deixar rasto.
Quarenta e um anos dura a espera do General para confrontar o amigo com a traição que fora cometida por ele e por Krisztina, a que também diverge da normalidade e ordem incorporadas pelo General.
A reconciliação ou pelo menos uma espécie de paz que lhe permitam terminar os seus dias com a tranquilidade dos que procuram a verdade é o que os dois homens perscrutam à luz das velas que ardem até ao fim na longa noite de confidências.
Não se viam há quarenta e um anos e, no entanto, essa ausência, esse espaço que se criara entre eles e que fora preenchido por anos de inquietude e por uma paciência rendilhada de íntimas certezas, era uma quase garantia de que se voltariam a encontrar, de que tudo o que fora dito apenas com a argúcia do olhar seria, no momento do reencontro, proferido por meio de palavras audíveis, com a objectividade que a espera de décadas tornara possível.
Konrád era proveniente de uma família que vivia com dificuldades e que se sacrificara para o enviar para a Academia militar, já ao General era-lhe proporcionada uma vida de abastança e a escolha da carreira militar tinha tanto de natural como de genuína inclinação do garboso jovem sem génio artístico, prático e racional nas suas preferências.
O amigo rico torna-se “protector” do amigo pobre complementando-se como companheiros inseparáveis. A amizade que os une é pura e inequívoca mas à medida que as suas personalidades se vincam pendendo a índole de um para a música e a de outro para as coisas da guerra, demonstrando até incompreensão e desprezo pela “utilidade” da música, a sua amizade dilui-se na perplexidade, na descoberta de que o outro é, afinal, diferente, fraco por se entregar à arte em detrimento da entrega à pátria, incapaz por não reconhecer a improficuidade do solo que escolhera pisar, a infertilidade da semente que ousara lançar.
A amizade cedia terreno à ruptura definitiva.
O General casa-se com Krisztina e também ela é diferente.
Numa caçada Kónrad aponta a arma ao amigo e este, apesar de se encontrar de costas, pressente a tentação e principia uma reflexão sobre o que motivara aquele momento e essa meditação dura quarenta e um anos porque Kónrad parte, desaparece sem deixar rasto.
Quarenta e um anos dura a espera do General para confrontar o amigo com a traição que fora cometida por ele e por Krisztina, a que também diverge da normalidade e ordem incorporadas pelo General.
A reconciliação ou pelo menos uma espécie de paz que lhe permitam terminar os seus dias com a tranquilidade dos que procuram a verdade é o que os dois homens perscrutam à luz das velas que ardem até ao fim na longa noite de confidências.
9 comentários:
Estou com esperanças de adquirir este livro. Parece-me muito bom, o único problema é mesmo saber quando é que terei esta oportunidade... *suspiro*
Este é, definitivamente, um livro a adquirir Pedro, uma obra que frustra os incautos que julgam saber escrever;)
Li este livro há relativamente pouco tempo e simplesmente adorei a escrita de Sándor Márai: tão leve, tão fluída.
Contudo, no final do livro fiquei um pouco desapontada, porque esperava mais esclarecimentos, um contacto mais íntimo, uma despedida mais solene... :P
Agradeço o link para o meu blog - foi assim que conheci o "À Margem" - e coloquei o seu no meu. Gostei muito deste espaço, voltarei!
Também li este livro apenas há cerca de 2 meses e congratulei-me com este seu texto. De facto, quer pela destreza/mestria técnica da escrita de "as velas", quer pela provocação diversificada nos leitores (o 1/3 final do livro é uma pérola de densidade! ui!) merece ser lido e, creio, conhecermos o seu autor. Quanto ao final, confesso que achei "brutal" a "solução-sem solução" ou o Grande Silêncio a que narrador e personages são remetidos :-) adorei. Creio, aliás, que pela grandeza da solução, vale a pena reler-se essa parte. ( Talvez - e dirijo-me a quem comentou aqui como djamb - talvez seja essa novidade tão bem construída que tenha provocado a sua sensção de desapontamento. Ora releia!)
:-)
Ah! tomei a liberdade de "linkar" este e os outros seus blogues, Carla, aos meus... :-)
Cordialmente, maria toscano
Djamb: Qual o endereço do seu blog para o poder linkar ao meu? Obrigado pelo testemunho aqui deixado:)
Maria: É uma obra de beleza perturbadora de facto... Obrigado pela passagem no À Margem, o seu blog já se encontra nos meus links também:)
Este livro - este "mais que livro" por ser uma obra prima da escrita -é um hino à Amizade, aos sentimentos mais nobres vivenciados pelo Homem, configurados aqui nas personagens dos dois amigos.
Faz parte dos meus livros de cabeceira, dado o prazer intelectual e espiritual que proporciona.
Faz-nos acreditar no Homem, ainda!...
A ler e reler, sempre.
P.S. Se quiser visitar o meu recém nascido Blog, terei muito prazer...
Teresa: Obrigado pela visita ao À Margem e pelo comentário aqui deixado; de facto, "As Velas Ardem até ao Fim" é daquelas obras que não se limitam a permanecer na nossa memória, eternizam-se num lugar especial que reservamos às coisas mais inesquecíveis e esta é uma leitura, por tudo e mais alguma coisa, que guardo religiosamente nesse espaço:) Este ano espero ler mais obras de Sandor Marai, anseio por isso...
Já visitei o seu blog, já inseri o link no meu e acompanhá-lo-ei daqui por diante:)
Carla. Obrigada pela sua visita. Espero que continue, que vá gostando,que diga coisas.
Ainda sobre o nosso amigo Sándor, neste momento estou a ler os "Rebeldes". Quem lê e relê este Homem, compreende que o seu fim só poderia ter sido o suícidio. Sensibilidades destas têm uma imensa dificuldade em se adaptar ao nosso mundo "pequenino".
Abraço.
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