domingo, novembro 23, 2008

"O Pregador Atormentado" de Thomas Hardy

Hardy, Thomas, O Pregador Atormentado (The Distracted Preacher), Quasi, Tradução de Vasco Gato, 2008.

Um jovem pregador metodista, Richard Stockdale, chega à pequena aldeia de Nether-Moynton para guiar o rebanho de fiéis provisoriamente, e logo compreende que ninguém havia assegurado a questão do alojamento do novo pastor, indiferentes que estavam à sua chegada.
A única casa com um quarto disponível era a da jovem viúva Lizzy Newberry que nela vivia com a mãe e uma criada.

E é nessa estada em casa de Lizzy que Stockdale se começa a aperceber das estranhas e inconstantes rotinas da Senhora Newberry, atento que estava às suas movimentações graças a um crescente interesse pela sua pessoa, assim como desperta para o envolvimento da aldeia numa forma de subsistência ilícita na qual Lizzy está implicada.

As incursões nocturnas de Lizzy preocupam-no não só porque a integridade física da mulher que ama pode estar em causa, mas também porque pondera os hábitos peculiares da viúva como um entrave, uma impossibilidade para esta se tornar mulher de um pregador metodista, neste caso, sua mulher.
As responsabilidades de uma mulher na posição em que Stockdale a projecta, não seriam compatíveis com a vida noctívaga, por razões de sobrevivência pessoal é certo, em que Lizzy se encontra.
Mas o apelo da subsistência não é o único a pesar no coração dividido da viúva Newberry. A vida aventurosa que leva também a requesta a uma continuidade ilógica e perante a insistência do pastor na desistência do modo de vida escolhido, a heroína deste conto aventura-se a permanecer sozinha, a atravessar os campos inundados de lua em amenas madrugadas de verão, a liderar homens com o casaco do marido falecido por cima do vestido, a fugir intrepidamente do fiscal Latimer que persegue os que roubam Sua Majestade o Rei.
Lizzy abdica do Amor e Stockdale na encruzilhada da emoção e do dever, parte de Nether-Moynton rumo a outra congregação, a uma existência sem sobressaltos nem atribulações, longe da mulher amada, mas seguro da impraticabilidade daquela união naquelas circunstâncias, reprovando a obstinação daquela mulher independente.

O fim da história, um fim ideal, “praticamente de rigueur numa revista inglesa ao tempo em que foi escrito” como afirma Hardy muitos anos mais tarde, sofre em 1912 um acrescento final, uma nota do autor, em que explica o porquê dessa escolha e sem qualquer contemplação, afirma que, na verdade, o desfecho da história de Lizzy e Stockdale seria fiel ao temperamento libertário da viúva, sem salpicos de exemplaridade mas unicamente transbordante da coragem de Lizzy em assumir que a noção de perfeição dos outros nem sempre coincide com os nossos sonhos.

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