
“O Quadro” de Nina Schuyler é não só a história de quatro vidas que se cruzam em pontos distantes do mundo no ano de 1870 sem que desse elo que os une tenham consciência, como também a história do cenário de transformações sociais e culturais inerentes ao período Meiji no Japão e à guerra franco-prussiana em França.
A ligação entre as quatro personagens sucede quando Ayoshi, a mulher de Hayashi, um proeminente oleiro e comerciante japonês com uma deformidade nos pés causada por um fogo que matara a sua família quando criança, coloca, secretamente, um quadro por si pintado na caixa de artefactos a enviar para venda em França. Esse quadro, um entre vários que Ayoshi pintara para eternizar o seu amor perdido por Urashi, um Ainu de quem engravidara antes de se casar com Hayashi, revela a intimidade dos amantes e imortaliza esse amor intocável representado de forma comovente e hipnotizante. Quando Jorgen, um mutilado dinamarquês da guerra franco-prussiana e armazenista numa empresa que se dedica ao comércio de produtos raros, abre a caixa e se depara com o quadro que não consta da lista de artigos enviados, apodera-se dele para mais tarde o vender. Natalia, a meia-irmã do dono da empresa, entra no mundo escuro de Jorgen com a sua determinação em salvar a França e alista-se nas fileiras do exército francês, almejando tornar-se uma exímia atiradora. A perda de um irmão ferido na guerra aproxima-a desse lado negro a que Jorgen não consegue fugir desde que fugira da mulher que amara e engravidara na Dinamarca.
É com relutância que Ayoshi aceita inicialmente a presença da sua “voz da consciência”, Sato, um velho amigo de infância ocidentalizado que conhece toda a extensão do seu sofrimento, e mais tarde a protecção que o marido concede a um monge budista que escapara a um massacre do exército na montanha. Mas é este monge jovem que nunca conhecera a vida fora do reduto do mosteiro que permite a Ayoshi reencontrar um sentido para a sua vida suspensa desde que uma curandeira lhe “arrancara as entranhas”.
Perpetuar a imagem do seu amado era a sua missão de vida mas, quando o monge Enri rasga um dos quadros em que figuram os amantes e ritualiza essa morte simbólica num cântico fúnebre budista, Ayoshi agradece-lhe a libertação mas espera o impossível do monge cujo destino não se entrelaçaria ao seu.
A proibição de realização de cerimónias budistas é quebrada pelo monge e todos partem, menos Hayashi que aguarda ser, finalmente, consumido pelo fogo purificador que o incapacitara há tantos anos.
Jorgen tenta convencer Natalia a não partir para a frente de combate, mas a sua vontade férrea supera qualquer súplica, mesmo a de alguém que perdera uma perna nessa guerra a que ela tanto desejava aderir. E como podia ele censurá-la? O seu maior desejo era comprar uma prótese e voltar para a frente de batalha. O custo da perna artificial obrigava-o a vender o quadro a que tanto se afeiçoara. De cada vez que o observava, parecia encontrar novos pormenores, quase como se o quadro se modificasse à medida que o próprio Jorgen se transformava por influência de Natalia. Ele já não era indiferente à vida.
Quando vende o quadro, fá-lo com a esperança de a nova perna lhe permitir ir ao encontro de Natalia e acorre ao consultório do médico inglês que entretanto, havia sido preso como espião.
Perante a impossibilidade de marchar rumo a Natalia, Jorgen recupera o quadro gastando todas as suas economias e sobe para um balão a gás de carvão cheio de correspondência militar e pessoal. Toda Paris cerca o balão, a esperança dos suplicantes e a sua própria de encontrar Natalia sobrevoando os céus, parece impelir o engenho a encontrar o caminho do amor.
Este é um livro de afectos superiores e de como os recomeços são sempre realizáveis. Indispensável.
A ligação entre as quatro personagens sucede quando Ayoshi, a mulher de Hayashi, um proeminente oleiro e comerciante japonês com uma deformidade nos pés causada por um fogo que matara a sua família quando criança, coloca, secretamente, um quadro por si pintado na caixa de artefactos a enviar para venda em França. Esse quadro, um entre vários que Ayoshi pintara para eternizar o seu amor perdido por Urashi, um Ainu de quem engravidara antes de se casar com Hayashi, revela a intimidade dos amantes e imortaliza esse amor intocável representado de forma comovente e hipnotizante. Quando Jorgen, um mutilado dinamarquês da guerra franco-prussiana e armazenista numa empresa que se dedica ao comércio de produtos raros, abre a caixa e se depara com o quadro que não consta da lista de artigos enviados, apodera-se dele para mais tarde o vender. Natalia, a meia-irmã do dono da empresa, entra no mundo escuro de Jorgen com a sua determinação em salvar a França e alista-se nas fileiras do exército francês, almejando tornar-se uma exímia atiradora. A perda de um irmão ferido na guerra aproxima-a desse lado negro a que Jorgen não consegue fugir desde que fugira da mulher que amara e engravidara na Dinamarca.
É com relutância que Ayoshi aceita inicialmente a presença da sua “voz da consciência”, Sato, um velho amigo de infância ocidentalizado que conhece toda a extensão do seu sofrimento, e mais tarde a protecção que o marido concede a um monge budista que escapara a um massacre do exército na montanha. Mas é este monge jovem que nunca conhecera a vida fora do reduto do mosteiro que permite a Ayoshi reencontrar um sentido para a sua vida suspensa desde que uma curandeira lhe “arrancara as entranhas”.
Perpetuar a imagem do seu amado era a sua missão de vida mas, quando o monge Enri rasga um dos quadros em que figuram os amantes e ritualiza essa morte simbólica num cântico fúnebre budista, Ayoshi agradece-lhe a libertação mas espera o impossível do monge cujo destino não se entrelaçaria ao seu.
A proibição de realização de cerimónias budistas é quebrada pelo monge e todos partem, menos Hayashi que aguarda ser, finalmente, consumido pelo fogo purificador que o incapacitara há tantos anos.
Jorgen tenta convencer Natalia a não partir para a frente de combate, mas a sua vontade férrea supera qualquer súplica, mesmo a de alguém que perdera uma perna nessa guerra a que ela tanto desejava aderir. E como podia ele censurá-la? O seu maior desejo era comprar uma prótese e voltar para a frente de batalha. O custo da perna artificial obrigava-o a vender o quadro a que tanto se afeiçoara. De cada vez que o observava, parecia encontrar novos pormenores, quase como se o quadro se modificasse à medida que o próprio Jorgen se transformava por influência de Natalia. Ele já não era indiferente à vida.
Quando vende o quadro, fá-lo com a esperança de a nova perna lhe permitir ir ao encontro de Natalia e acorre ao consultório do médico inglês que entretanto, havia sido preso como espião.
Perante a impossibilidade de marchar rumo a Natalia, Jorgen recupera o quadro gastando todas as suas economias e sobe para um balão a gás de carvão cheio de correspondência militar e pessoal. Toda Paris cerca o balão, a esperança dos suplicantes e a sua própria de encontrar Natalia sobrevoando os céus, parece impelir o engenho a encontrar o caminho do amor.
Este é um livro de afectos superiores e de como os recomeços são sempre realizáveis. Indispensável.