domingo, março 08, 2009

"A Festa de Anos" de Panos Karnezis

Karnezis, Panos, A Festa de Anos (The Birthday Party), Bizâncio, Tradução de Irene Guimarães, 2009.

Marco Timoleon é um dos homens mais ricos do mundo.
Todas as suas conquistas ancoravam num inelutável faro para os negócios e numa persistência sobre-humana que o empurrava a tocar resolutamente às portas que encontrava fechadas à sua passagem. Cessava de insistir quando o que almejava já era seu.

É organizada por si uma festa de anos para celebrar o vigésimo quinto aniversário da filha mas, na verdade, esta celebração esconde uma maquinação do milionário para conduzir a filha a uma tomada de posição que vá ao encontro das pretensões do pai. A festa de anos é a desculpa encontrada por Marco para suavizar a decisão que induziria Sofia a tomar.

Contudo, a perspicácia da filha (mesclada com desequilíbrios próprios de quem tivera uma vida familiar marcada pela morte misteriosa e prematura da mãe e pelos acessos de fúria do pai) põe à prova a lendária tenacidade de Marco Timoleon bem como a lealdade do amante e biógrafo do pai.

Ela consegue desnudar a alma de cada um. Só à beira do abismo eles se lhe revelam tal qual são e Sofia bebe a verdade com a sofreguidão dos desesperados.

Esta pobre menina rica e o seu pai poderoso que julga poder esmagar o mundo com o que representa e sobretudo ter absoluto controlo sobre as mulheres da sua vida demonstrando uma crueldade inexplicável para com quem o ama, fez-me vir à memória a história real de Onassis com tudo que teve de glorioso e espantoso, mas também com a denegação daquilo que era mais certo e seguro e precioso na sua vida sendo o exemplo da relação com Maria Callas o mais manifesto.

O estratagema de Timoleon para, mais uma vez, sair vencedor numa querela familiar em que a sua afirmação como o patriarca dominador é posta em causa, fracassa ante o rumo que os acontecimentos no dia da festa de anos na ilha privada de Marco seguem.

A manipulação de pessoas que pratica com a habilidade fácil de alguém que tem como hábito atropelar a vontade do outro, é evidente nesta personagem que Panos Karnezis trabalha com minúcia surpreendente naquilo que é a história de vida de um homem destinado a perder todos aqueles que ama e que num último esforço e rebate de consciência inédito nele, evita a destruição definitiva da sua família. Bem a tempo de viver, finalmente, em paz.

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