domingo, maio 06, 2007

"Ética para um Jovem" de Fernando Savater

Em “Ética para um Jovem”, Fernando Savater adopta um estilo ou forma de escrita quase epistolar na medida em que existe um destinatário sempre presente e vincado pelo autor ao longo da obra, o seu filho adolescente. Contudo, o leitor não é conduzido numa viagem de monólogo, mas de quase diálogo já que vezes há em que a “voz” do filho ausente/presente parece chegar-nos com impressionante nitidez. E é, de facto, de uma viagem que se trata quando nos debruçamos sobre este livro (e não será a leitura de qualquer livro uma viagem?), mas qual o destino deste périplo ao mundo da ética? Qual o objectivo ético de um livro sobre ética? Apoiando-se na ideia de Wittgenstein segundo a qual não era possível escrever um verdadeiro livro de ética, Savater acaba questionando o propósito do livro e alarga com esta indefinição o campo de trabalho desta área de saber que não é, de forma alguma, pertença exclusiva das ciências humanas, mas antes pertença exclusiva do género humano, a característica essencial de distinção entre Homem e outras espécies animais.
O autor confronta-nos e confronta o seu jovem discípulo /filho logo no capítulo primeiro com o objecto da ética que é, simultaneamente, a sua finalidade, a sua meta última, a liberdade. E como a liberdade com tudo o que abarca (e este tudo é mesmo tudo, ou seja, a totalidade das acções e operações humanas, aquilo que nos permite viver e fazer os outros viver) engloba não só o sujeito e a sua individualidade, mas também a interacção dele com os outros, a influência que o homem pode ter na sua e na qualidade de vida dos que o rodeiam, podemos com alguma segurança afirmar que, e seguindo a perspectiva fornecida por Fernando Savater, a ética trata da liberdade e, por isso, será o mais completo dos saberes, uma espécie de ciência das ciências.
“A ética é apenas o propósito racional de averiguar como viveremos melhor.”, afirma o autor depois de partir de um exemplo retirado da Bíblia, a história de Esaú e Jacob. Aliás, uma “técnica” utilizada por Savater por forma a tornar a mensagem a transmitir mais facilmente perceptível, é precisamente começar por ilustrar e só depois resumir a ideia a retirar da “imagem”. Desloca o seu discurso no sentido de tornar a leitura límpida, sem enigma nem mistério possível face ao que se pretende dar a conhecer e sobretudo tendo em consideração o destinatário principal da obra, um jovem de quinze anos. Quanto à citação com que iniciei este parágrafo, ela surge no sentido de especificar, esclarecer a noção de liberdade apresentada e que se atém a três outros conceitos muito vincados sem dúvida porque fundamentais para demarcar o terreno “real” da liberdade e são eles: ordens, costumes e caprichos. Também aqui desencadeia a reflexão a partir de um exemplo, desta feita da autoria de Aristóteles para realçar o dilema que por vezes constitui tomar decisões e qual o posicionamento adequado de quem as toma de acordo com as circunstâncias específicas em que se encontra. E é neste contexto que “liberdade é decidir” mas também darmo-nos conta do que fazemos, o que por vezes nos convém a nós pode não convir aos outros. Ordens podem inibir a liberdade, mas se se disser “Faz o que quiseres”, será este imperativo uma ordem inibidora? Os costumes, por sua vez, situam-se num universo relativamente rígido em que impera a tradição, o testemunho das gerações passadas que transmitem um conjunto de valores passíveis de serem assimilados ou não pelos jovens, é uma questão de escolha. Os caprichos por sua vez parecem implicar uma maior dose de liberdade, no entanto, geralmente associa-se o capricho a um estado egoísta provisório e beneficiador de uma liberdade própria exacerbada, levada a um extremo, mas porventura inibidora das liberdades alheias.

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito boa análise do livro. Parabéns. Caprichas-te. Vou ler o livro

Cumpz Mariia Ines ;)

Anónimo disse...

Gostaria muito de indicar a obra para meus alunos lerem.

Anónimo disse...

dou apenas os parabens pelo blog, está fantastico, e incrivel tanta cultura, e o gosto fascinante pelos livros. vou seguir com mais frequencia. parabens mais uma ves *