O medo, catalizador de bravura e de cobardia, encarregava-se de separar os animicamente preparados para combater, ainda que numa guerra ambígua e os que, possuidores de uma estrutura psicológica auto-impeditiva, arriscavam a sua aniquilação às mãos do inimigo, bem como a de todo um grupo de homens dependentes entre si.
A Floresta dos Dembos, personifica de forma palpável a invisibilidade do medo que, de uma forma ou outra, arrebatou cada um daqueles homens, ora em abismos profundos de vegetação tão densa que era impossível caminhar, ora em esparsas clareiras onde o inimigo os emboscava numa infindável perseguição em que aquele que hoje perseguia, amanhã era perseguido.
Mas não é só o medo a criar divisões no seio do exército português. Estávamos perante uma tropa mista no sentido em que, de um lado possuíamos combatentes vindos e formados em Portugal, profundamente marcados pela coacção ao livre-pensamento, norma no Portugal daquele tempo, do outro perfilavam-se jovens nascidos ou criados em Angola (os Euro-Africanos como o autor os apelida e em cujo grupo se enquadra) com uma mentalidade diversa, porque não sujeitos às numerosas restrições experimentadas na metrópole. Já dominados pelo medo na terra natal, o seu posicionamento num palco de guerra distante, não raras vezes, não divergia muito desse primitivo instinto de sobrevivência que os impelia a manter a cabeça baixa e a não ter opinião. Os Angolanos, por sua vez, insurgiam-se contra os tiques ditatoriais das patentes superiores, habituadas que estavam a dominar sem contestação. Tentou-se a contaminação, o mergulho no estado de medo em que Portugal vivia submerso, mas em zona operacional, a probabilidade de desmandos ilógicos descambarem em motim, não era absurda pelo que, estancou-se, em certa medida, o absolutismo militar de homens de carácter e moral duvidosos que pretendiam subir na vida com a circunstância trágica da guerra.
Carlos Ganhão denuncia a ausência de humanidade e respeito pela vida humana evidenciados por muitos protagonistas da Guerra em Angola, sobretudo pelos que conduziam a guerra a partir de gabinetes e observando mapas, enquanto toda uma juventude se perdia ou perdia a inocência face aos horrores vividos.
No labirinto de significados ou inexistência deles (até porque uma guerra apresenta sempre como principal motivação a irracionalidade de alguns pela qual uma maioria se sacrifica), o autor conduz o leitor ao longo dos dois anos de duração da sua comissão, nas memórias mais genuinamente escritas que já tive oportunidade de ler. Trata-se de uma referência histórica sobre um período com tanto ainda por desvendar.
Retirem-se as máscaras, chegou o momento da Verdade. Sem medos.
A Floresta dos Dembos, personifica de forma palpável a invisibilidade do medo que, de uma forma ou outra, arrebatou cada um daqueles homens, ora em abismos profundos de vegetação tão densa que era impossível caminhar, ora em esparsas clareiras onde o inimigo os emboscava numa infindável perseguição em que aquele que hoje perseguia, amanhã era perseguido.
Mas não é só o medo a criar divisões no seio do exército português. Estávamos perante uma tropa mista no sentido em que, de um lado possuíamos combatentes vindos e formados em Portugal, profundamente marcados pela coacção ao livre-pensamento, norma no Portugal daquele tempo, do outro perfilavam-se jovens nascidos ou criados em Angola (os Euro-Africanos como o autor os apelida e em cujo grupo se enquadra) com uma mentalidade diversa, porque não sujeitos às numerosas restrições experimentadas na metrópole. Já dominados pelo medo na terra natal, o seu posicionamento num palco de guerra distante, não raras vezes, não divergia muito desse primitivo instinto de sobrevivência que os impelia a manter a cabeça baixa e a não ter opinião. Os Angolanos, por sua vez, insurgiam-se contra os tiques ditatoriais das patentes superiores, habituadas que estavam a dominar sem contestação. Tentou-se a contaminação, o mergulho no estado de medo em que Portugal vivia submerso, mas em zona operacional, a probabilidade de desmandos ilógicos descambarem em motim, não era absurda pelo que, estancou-se, em certa medida, o absolutismo militar de homens de carácter e moral duvidosos que pretendiam subir na vida com a circunstância trágica da guerra.
Carlos Ganhão denuncia a ausência de humanidade e respeito pela vida humana evidenciados por muitos protagonistas da Guerra em Angola, sobretudo pelos que conduziam a guerra a partir de gabinetes e observando mapas, enquanto toda uma juventude se perdia ou perdia a inocência face aos horrores vividos.
No labirinto de significados ou inexistência deles (até porque uma guerra apresenta sempre como principal motivação a irracionalidade de alguns pela qual uma maioria se sacrifica), o autor conduz o leitor ao longo dos dois anos de duração da sua comissão, nas memórias mais genuinamente escritas que já tive oportunidade de ler. Trata-se de uma referência histórica sobre um período com tanto ainda por desvendar.
Retirem-se as máscaras, chegou o momento da Verdade. Sem medos.
4 comentários:
Boa noite, é claro o gosto pela História, e especialmente os factos não contados, interessante = )
As guerras modernas são para mim um dos fenómenos que comprometem por absoluto a inteligência humana, ou que então provam a não-inteligência.
Esse comando distante de peões em campo de batalha sem rei nem roque elimou, e elimina, soldados como quem apaga um risco de um caderno com a borracha, e um absurdo, mas é a realidade.
Sugestivo e digno de pensar!
boas leituras!
Abraço
É verdade Miguel, o elemento irracional a imperar e quando se tem acesso a relatos na 1ª. pessoa, como é o caso do livro de Carlos Ganhão, ou na 1ª. pessoa a viva voz, como é o caso de pessoas que me são muito próximas, mais se nos torna evidente o absurdo que é a guerra...
Abraço!
Bom dia,
Ao fazer uma pesquisa sobre este livro na net fui ter ao seu Blog, que achei muito interessante e para uma fã de livros, será um dos blogs a consultar com frequência!
Este foi o livro que acabei de ler e gostei bastante... Fiz um post sobre o mesmo no meu Blog, fazendo também referência ao seu (Espero que não se importe).
Obrigada
Obrigada pela visita e é evidente que não me importo da referência que faz ao meu blog:)
Sobre o livro de Carlos Ganhão... É uma escrita muito crua no sentido em que é escrito da forma como os factos foram vivenciados tornando a(s) narrativa(s) apresentada(s)solidamente intensa...
Abraço:)
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