O Hotel Overlook apresenta-se, inicialmente, como o escape emocional de que Jack Torrance necessitava para conferir uma amplitude diferente à sua vida. Atormentado por uma agressão cometida contra o filho e por uma outra protagonizada contra um aluno da escola onde leccionava (tendo como consequência o seu despedimento), Jack é envolvido por estes fantasmas que povoam a sua história pessoal mais recente, deparando-se, de igual modo, com sombras provenientes de um passado mais remoto que, traiçoeiramente, se apoderam do seu pensamento e o obrigam a recuar a uma infância repleta de imagens da violência de um pai alcoólico. A procura de uma segunda oportunidade, de uma restauração de si perante si e perante os outros que lhe permitisse recuperar da vida decadente a que o álcool o remetera, este o objectivo de Torrance, disposto a manter o Hotel Overlook em perfeitas condições durante o rigoroso Inverno nas montanhas do Colorado e, em paralelo, a escrever a sua peça de teatro por forma a tentar o relançamento da sua actividade de escritor.
A família Torrance, composta por Jack, Wendy e o filho de ambos, Danny, desloca-se, então, para o histórico Overlook onde passarão a temporada de Inverno sitiados pela neve que, em breve, começaria a tombar até cortar todos os acessos possíveis ao Hotel e negando aos seus temporários habitantes a evasão do espaço a que se encontravam confinados.
Em plena prossecução dos seus deveres de encarregado do Hotel, Jack depara-se, na cave, com um manancial de escritos, recortes de jornais e fotografias referentes ao passado conhecido e desconhecido do Overlook. Assim, gradativamente aguçado, primeiro pela curiosidade do escritor que encontrou bom material de escrita, e depois pelo apelo e fascínio, cada vez mais intensos, que o passado sombrio do Hotel exercia sobre ele, assistimos à transformação progressiva da personagem em sentido inverso à sua intenção primeira. Jack não tem acesso a álcool no Hotel, no entanto, com a contaminação crescente das memórias atrozes do mesmo sobre si, Torrance é dominado pelas sombras que habitam o Overlook, deixando-se embriagar pelo poder maligno que do Hotel emana.
O rasto do mal é perceptível aos olhos de Jack mas, sobretudo aos de Danny que, mesmo antes do Hotel fechar, é alertado pelo cozinheiro chefe, Halloran, dos perigos que aquele Hotel encerrava e de que ele e outros poucos iluminados (como Danny) se teriam apercebido. Danny detém o poder da reverberação, de ver para além do visível e é mediante este dom, que não consegue controlar, que Danny sente o Overlook como um organismo vivo pronto a devorá-lo e à restante família. As visões de Danny mostram-lhe a soberania de destruição do Hotel ao longo dos anos através, por exemplo, do mítico quarto 217 onde uma hóspede se suicidara e cuja presença ainda se faz sentir na violência da comunicação que enceta com Danny.
O Hotel quer apoderar-se da fortaleza de espírito de Danny através da fraqueza de espírito do pai, instigando-o a cometer o derradeiro sacrifício em nome de uma lealdade duvidosa para com o “verdadeiro gerente” do Hotel. A cartada última deste mal é colocar no caminho de Jack, Delbert Grady, um antigo encarregado do Hotel que matara as duas filhas e a mulher e de seguida se suicidara. Grady fala-lhe no “correctivo” que tem que aplicar à mulher demasiado interferente e ao filho demasiado impertinente e Jack lança-se numa caçada à própria família. A sua transfiguração de presa para caçador nunca é absoluta, porque Torrance é prisioneiro das memórias terríveis do Overlook e vendera a sua alma a um mal abstracto nunca identificado com clareza.
A destruição purificadora do Hotel pelo fogo, não deixa de ser irónica porque é através da explosão da caldeira, cujo cuidado Jack descurara (subjugado como estava pela loucura), que se verifica o incêndio. Ou seja, trata-se quase de uma autodestruição na medida em que, na procura desenfreada de submeter Danny ao mal, o próprio mal, incorporado por Jack, se descuida na manutenção daquilo que o permite continuar a subsistir.
A família Torrance, composta por Jack, Wendy e o filho de ambos, Danny, desloca-se, então, para o histórico Overlook onde passarão a temporada de Inverno sitiados pela neve que, em breve, começaria a tombar até cortar todos os acessos possíveis ao Hotel e negando aos seus temporários habitantes a evasão do espaço a que se encontravam confinados.
Em plena prossecução dos seus deveres de encarregado do Hotel, Jack depara-se, na cave, com um manancial de escritos, recortes de jornais e fotografias referentes ao passado conhecido e desconhecido do Overlook. Assim, gradativamente aguçado, primeiro pela curiosidade do escritor que encontrou bom material de escrita, e depois pelo apelo e fascínio, cada vez mais intensos, que o passado sombrio do Hotel exercia sobre ele, assistimos à transformação progressiva da personagem em sentido inverso à sua intenção primeira. Jack não tem acesso a álcool no Hotel, no entanto, com a contaminação crescente das memórias atrozes do mesmo sobre si, Torrance é dominado pelas sombras que habitam o Overlook, deixando-se embriagar pelo poder maligno que do Hotel emana.
O rasto do mal é perceptível aos olhos de Jack mas, sobretudo aos de Danny que, mesmo antes do Hotel fechar, é alertado pelo cozinheiro chefe, Halloran, dos perigos que aquele Hotel encerrava e de que ele e outros poucos iluminados (como Danny) se teriam apercebido. Danny detém o poder da reverberação, de ver para além do visível e é mediante este dom, que não consegue controlar, que Danny sente o Overlook como um organismo vivo pronto a devorá-lo e à restante família. As visões de Danny mostram-lhe a soberania de destruição do Hotel ao longo dos anos através, por exemplo, do mítico quarto 217 onde uma hóspede se suicidara e cuja presença ainda se faz sentir na violência da comunicação que enceta com Danny.
O Hotel quer apoderar-se da fortaleza de espírito de Danny através da fraqueza de espírito do pai, instigando-o a cometer o derradeiro sacrifício em nome de uma lealdade duvidosa para com o “verdadeiro gerente” do Hotel. A cartada última deste mal é colocar no caminho de Jack, Delbert Grady, um antigo encarregado do Hotel que matara as duas filhas e a mulher e de seguida se suicidara. Grady fala-lhe no “correctivo” que tem que aplicar à mulher demasiado interferente e ao filho demasiado impertinente e Jack lança-se numa caçada à própria família. A sua transfiguração de presa para caçador nunca é absoluta, porque Torrance é prisioneiro das memórias terríveis do Overlook e vendera a sua alma a um mal abstracto nunca identificado com clareza.
A destruição purificadora do Hotel pelo fogo, não deixa de ser irónica porque é através da explosão da caldeira, cujo cuidado Jack descurara (subjugado como estava pela loucura), que se verifica o incêndio. Ou seja, trata-se quase de uma autodestruição na medida em que, na procura desenfreada de submeter Danny ao mal, o próprio mal, incorporado por Jack, se descuida na manutenção daquilo que o permite continuar a subsistir.
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